Árvore
Um passarinho pediu a meu irmão para ser uma árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol,
de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore, aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casa vazia de cigarra, esquecida no tronco das árvores só serve para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores
são vaidosas. Que justamente aquela árvore na qual meu irmão
se transformara, envaidecia-se quando era nomeada para o
entardecer dos pássaros e tinha ciúmes da brancura que os
lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore
porque fez amizade com as borboletas.
Manoel de Barros, in “Poesias Completas”
Sabia que…
Manoel de Barros (1916-2014) nasceu no Brasil e foi advogado, fazendeiro e um dos grandes poetas brasileiros. Escreveu o seu primeiro poema aos 19 anos. O seu primeiro livro premiado, em 1960, foi “Compêndio Para Uso dos Pássaros”, galardoado com o Prémio Orlando Dantas, atribuído pela Academia Brasileira de Letras.
As flores do jacarandá
O jacarandá florido
Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia
O jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia
Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava
Matilde Rosa Araújo, in “As Fadas Verdes”
Sabia que…
Matilde Rosa Araújo (1921-2010), nasceu numa quinta, no meio de árvores, flores e animais. Foi ficcionista, poetisa, cronista, professora e pedagoga. O seu livro “Fadas Verdes” é leitura obrigatória no terceiro ano de escolaridade do Ensino Básico.
A fermosura desta fresca serra
A fermosura desta fresca serra,
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;
O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do Sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;
Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos oferece,
Me está se não te vejo magoando.
Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias, mor tristeza.
Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”
Sabia que…
Luís Vaz de Camões (1524-1580) é um nome incontornável da história da literatura portuguesa e autor de variadíssimos sonetos que abordam o amor e a natureza, bem como do poema épico “Os Lusíadas”, a grande epopeia da literatura portuguesa que relata e celebra as conquistas marítimas durante a época dos Descobrimentos.
Como um vento na floresta
Como um vento na floresta,
Minha emoção não tem fim.
Nada sou, nada me resta.
Não sei quem sou para mim.
E como entre os arvoredos
Há grandes sons de folhagem,
Também agito segredos
No fundo da minha imagem.
E o grande ruído do vento
Que as folhas cobrem de som
Despe-me do pensamento:
Sou ninguém, temo ser bom.
Fernando Pessoa, in “Poesias Inéditas”
Sabia que…
Fernando Pessoa (1888-1935) é um dos mais importantes poetas portugueses e um dos nomes mais reconhecidos da literatura portuguesa. Em nome próprio e através dos seus heterónimos, escreveu dezenas de poemas inspirados na floresta ou que a ela fazem alusão. Apesar do seu atual reconhecimento, a maior parte da sua extensa obra só começou a ser descoberta e publicada após a sua morte.
A um carvalho
Eis o pai da montanha, o bíblico Moisés
Vegetal!
Falou com Deus também,
E debaixo dos pés, inominada, tem
A lei da vida em pedra natural!
Forte como um destino,
Calmo como um pastor,
E sempre pontual e matutino
A receber o frio e o calor!
Barbas, rugas e veias
De gigante.
Mas, sobretudo, braços!
Longos e negros desmedidos traços,
Gestos solenes duma fé constante…
Folhas verdes à volta do desejo
Que amadurece.
E nos olha a prece
Da eternidade
Eis o pai da montanha, o fálico pagão
Que se veste de neve e guarda a mocidade
No coração!
Miguel Torga, in “Diário V”
Sabia que…
Miguel Torga (1907-1995) é o nome literário do médico Adolfo Correia da Rocha. O Poeta, é considerado um mestre da escrita autobiográfica. Nascido em meio rural, explica esta ligação num dos seus diários publicados: “Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro.”
in https://florestas.pt/descobrir/10-poemas-inspirados-na-floresta-arvores-e-natureza/, consultado em 21 de março de 2025

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